segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Desmentida, despedida, desmedida.

"Talvez tenha mais sorte com alguém que não carregue o seu nome"

Deu de ombros, se virou, e sumiu no meio de pessoas. No mar cheio delas.
E se misturou, como se fosse ninguém.

Desmentiu a despedida, desmedida, cansada de tentar.
Foi pra não voltar, e foi, levou meu sono. Quase desarmada. Munida com nada além de bolsos vazios, e mãos em concha. E coração. Foi, e foi pra não voltar!, me disseram. Levou travesseiro, escova de dente, e a garrafa do meu melhor sossega leão. Agora, sossega coração. Quero ir embora.
Bom, quis. Até você dobrar a esquina.

Dessa vez, não vou. Não vou até lá cuidar das tuas insanidades, não vou pegar pra criar.
Você dizia, você dizia que não sabia de nada. Mas, quem não sabia era eu. Você dizia que não fora enganada, mas, quem é que se engana senão o que grita em brasa? Em brasa de pele quente, dizem. Quem é, senão o suor que desce pelos dedos? Quem mente? Quem, (só)mente.

Desmentindo a tua ida, desmentindo a tua ira.
Desmedida. Sempre foi.
Aquilo não foi nada.
Nada, e você nada.
Nada, e você nada contra mim.

Talvez tenha mais sorte com alguém, que vá carregar o teu nome!, disseram.
Ah, vá, diga que vá.
Diga que vá, e que não volta.

Finja que vai, não olha pra trás,
não olha, finge que vai,
mas, sabe que volta.
Há de voltar.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Nove horas.

Preciso de uma pancada na cabeça.
Uma pancada forte resolveria muitas coisas.

Passei o dia fechada dentro do quarto, com o quarto fechado só para mim. Não vi claridade, quando abri a porta para pegar um copo d´água e lavar o rosto, já havia anoitecido. Passei o dia aqui dentro, sem muito mais que minha cabeça, o computador e a música no mp3.
Quando acordei no horário de costume para os afazeres do dia, resolvi que não faria nada. Nada.
Eu precisava não fazer nada. Hoje, talvez o dia não me permitisse mais ou menos que isso.
Estou desgastada até os ossos.
Fiz, ao longo do dia, uma análise completa daquilo o que sou, tenho, e vejo ao redor.
Soube hoje, que um antigo professor do ensino médio que tive, era na verdade, um pedófilo enrustido por milhares de camadas de carisma, e discursos de moral e boa conduta. Passei o dia no quarto, vendo as notícias a respeito do caso, e se soubesse do barulho que andam fazendo por isso... Repensaria a opção de entrar na internet durante uma semana, ou até mais. Agora o fazem como uma péssima pessoa, expressam a decepção e a raiva, como se isso alterasse o resultado do acontecido. Como se ler e protestar durante dias fosse alterar o fim da matéria do jornal, ou o fato de ter sido algum conhecido a cometer atrocidade tão grande, e absurda. Isso acontece o tempo todo.
O tempo todo.
O cara que se aproveita de garotinhas.
O cara que se aproveita de todo mundo, e ninguém sabe até isso ir parar no jornal local.

Droga, eu já disse que estava desgastada até os ossos antes. Desgaste de pessoas.
Amo pessoas, mas, é claro, na minha cabeça isso precisava se tornar algo doentio. Precisava, e se tornou. Chega de alimentar esses egos. Chega de alimentar você.
Não estou sozinha. Ontem, tive um ombro à quem pudesse encostar a cabeça e todo esse peso cotidiano na volta para casa. Num ônibus. Um amigo.
Não estou "sozinha de pessoas", não. Só não tenho vontade de procurá-las, ou fazê-las notar qualquer coisa. Hora de ser egoísta.
Estou sendo sincera demais, e nunca apliquei essa radicalidade à minha escrita. E talvez, isso nem faça diferença. Resolva o problema, me acerte com força. No lobo temporal, com muita força. Me faça acordar do coma, sem lembrar nem do próprio nome. Faça-o, você o quer, e eu preciso disso. Faça-o.

— Você tem "essa coisa" com comas, não é?
Penso nessa pergunta todos os dias, desde então.

Penso que nunca tenha acordado de um. Penso que ainda lembro o suficiente para não querer acordar com uma memória intacta. E seja melhor assim.
Ainda estou dormindo.
Ainda não acordei, decidindo não fazer nada.
Fechando as portas e janelas ligadas ao mundo exterior.
Não acordei.

Coma.
Pancada.
Ainda lembro do meu nome.
Nome, o lugar ao qual devo pertencer, pessoas.
O que tenho.
Ainda me lembro.

Estou dormindo.
E ainda me lembro.
O coma.
A pancada.
Não foi forte o bastante.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Meia-noite e... Em que ano estamos mesmo?

Outra noite.

E começa sempre assim. Hoje eu estou usando o mesmo pijama de três dias atrás, e pedi comida chinesa. Sempre desconfiei da culinária chinesa, sempre. Sempre tive uma certa resistência à coisas do gênero, você sabe, essa comida saudável cheia de vegetais que você nunca saberá de onde veio. Mas, bom, parece que isso não importou hoje. Não fez quaisquer sombra de diferença.
Tem esse relógio digital gigante (e imaginário), e eu olho para ele todas as noites. Sabendo que tem algo de errado, sabendo da contagem regressiva. Sabendo de cada segundo perdido, ao longo do dia, todos os dias.
Tem algo errado, não sei com qual de nós dois.
Há alguns dias tenho andado cansada, e quase o tempo todo, sem fome. Largo a caixinha do frango xadrez nas primeiras três garfadas. Tenho convivido há muito só com essa regra de três.
Três garfadas na comida. Três copos de café por dia. E por fim, três calmantes.
Não tem funcionado muito bem. Não tenho ninguém (que precise) para dizer que isso vai acabar com o meu organismo, saúde e blá blá blá.
Não tenho esse "jeito" para escrever. Não tenho esse "estilo" mágico. Faço-o atualmente por ócio, há muito aquele brilho nos olhos quase incandescente desapareceu. Estrela cadente, só que agora, (de)cadente.
Fazem alguns anos que deixei aquela dívida com os outros, aquela satisfação, aquela desculpa. Se hoje não me pareço com quem fui há anos atrás, com certeza, é por isso. Talvez o cabelo tenha crescido, e adquirido mais três tons diferentes (regra de três, de novo?), os traços do rosto são mais rígidos, e as linhas estejam aparecendo mais. Fisicamente não mudei muito. Agora, por dentro, você não gostaria de ver o estrago.
É uma bagunça, mas, prefiro não entrar em detalhes.
Moro sozinha, e venho tendo dificuldade para manter contato com o mundo exterior. Vou para a Redação durante o dia, volto para casa no fim da tarde. Paro, vez ou outra, num bar perto do prédio para matar aqueles poucos leões que passei o dia engolindo. Ou melhor dizendo, para afogá-los temporariamente, até a manhã seguinte.
Tem sido assim, e eu nem sei quanto tempo faz.

Hoje, por poucos segundos, tive um vislumbre. Foram poucos momentos de uma espécie de explosão. Explosão dentro de mim, dos orgãos, do sistema nervoso inteiro. Seu olhar, curioso, como sempre, nada expressou além de surpresa, e em seguida, indiferença. Não é pra menos. Ainda assim, me fez explodir. Tentei dizer algo, mas, a voz não saía, e a cabeça não formulava frase que fizesse sentido.
Em tempos, eu não sentia tanto. Nem a bateria de injeções por culpa de uma gripe cruel no mês passado, pareceu tanto. Meus braços eram todo êxtase.
Tenho alguns problemas, e descobrir que depois de tantos anos, você ainda é um deles, em nada melhorou o meu dia. A culpa não é sua, nunca foi. Mas, carregá-la, se tornou um fardo demasiado alto, até para mim.
Você não deve ter notícias minhas, há o que? Um ano? Bastante tempo. Quase não o vi passar, e como mudou. Mudaram as estações, e junto com elas, tudo mudou, sim. A cor da parede, os móveis, a roupa de cama. O aumento na medicação, as olheiras, a falta de sono. A rotina, as pessoas, o fim de tarde. Os fins de tarde em que nos enrolávamos naqueles lençóis velhos, e coloridos que você costumava adorar. 
(Aqueles fins de tarde, em que hoje, sem pensar muito, se me oferecesse uma outra vez, aceitaria. Se me oferecesse cama, os lençóis coloridos, e você sem nada além daquele sorriso de fim de tarde, aceitaria). Até o que eu costumava pedir quando saíamos, mudou. Até meia hora atrás, estava com uma caixinha de comida chinesa em mãos, cara, não sei o que pode ser mais surpreendente do que isso. Regra de três.
Ano de três.
Tive aproximadamente três em tudo, a vida toda.

Outra noite, que vai terminar diferente das outras, e que vai se repetir até quando meu cérebro achar outra coisa com o que se ocupar. Até meus braços resolverem sair do êxtase, e o sistema nervoso não estiver mais tão abalado.
Você vai dar trabalho essa noite. E por essa, nem você esperava, huh?

Goodnight, travel well, eu diria.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Inevitable.

Teus olhos claros, posso jurar que os vi hoje, mais cedo. Fitaram-me, mais como eu se eu fosse algo curioso, que o teu olhar nunca encontrou. Ou que você nunca tenha encontrado. Curioso, como em tantas vezes me olharam assim. Como quando tu passava em casa, sempre depois da chuva ou tempestade qualquer, sempre pedia café quente, e roupa pra vestir. Minhas roupas, com talvez o triplo do nosso tamanho, sempre caíam lhe tão bem. E caíam por qualquer lugar da casa, e eu também posso jurar que sempre torcia pra tu não encontrá-las de volta.
Teus olhos claros, me fizeram pensar na gente. Me fizeram pensar no jeito que você olhava emburrada quando não gostava de alguma coisa, ou quando só se sentia ameaçada; me fizeram lembrar do teu medo.
Teus olhos claros me fizeram lembrar de quando leu: "Ela apertou os lábios contra os dele tão forte, que os dentes começaram a se espremer. Nenhum dos dois reclamou da dor" e quando terminou, tentou fazer igual. Eu não reclamei da dor, não naquele momento, não enquanto eramos personagens de um conto fantástico. E eramos os meus preferidos, sabia?
Teus olhos claros, sempre ficaram mais bonitos a meia luz. Luz que vinha do abajur, aquele que você sempre jogava no chão enquanto brigávamos, afinal, ele é "uma violação ao bom gosto" e "uma das tranqueiras que você gosta de ter". Ele nunca parou de funcionar, a luz nunca deixou de se acender, e o seu rosto, continuava iluminado enquanto dormia.
Teus olhos claros, são seus, e eu ainda posso jurar que os vi hoje.
Não era você, mas queria que fosse.
Não eram os teus olhos; se desfizeram.
Não era você; e eu ainda te via em algum lugar.

Nos olhos claros,
que já não estavam mais ali.

sábado, 24 de agosto de 2013

Um copo, um corpo ou dois.


"Me esqueço em pensamentos, 
e tu cobra um pouco de colchão"

Ela não ama, e não querer-me-ia como seu cônjuge exacerbado, cheio de vaidades e historias para contar. Ela não quer.
Ela não ama só por amar, não ama por ser o primeiro,
e não amaria outro, se assim, esse estivesse em meu lugar.
Ela não ama.
E nem o faria, se assim quisesse.

Ela não se fascina pela luz fraca que invade os lençóis no meio da noite,
a luz vem do abajur que ela não quis comprar.
Ela não olha nos olhos,
Ela vira, e revira o colchão.
Se esconde.

Lento, para em frente a sacada, e imagina quantos milésimos de segundo demoraria para atingir a rua,
quantos segundos levariam, e onde, a levaria.

"Desfaz a casa que casa com o meu botão"

E pensa constantemente no vai-e-vem dos corpos, entre os corpos. Não liga para a marca deixada no móvel, feito círculo, que fez um copo qualquer soar na noite anterior.
Um copo.
Um corpo,
ou dois.

"Sem gelo, quero quente,
e que faça queimar, tudo aquilo, até onde possa,
sentir."

Onde foi, e onde está?
Um corpo, ou dois,
que não são mais.
Sólidos;
Estão só.
E só não são,
mais.

"O meu coração ao teu, teu nome talhado e o meu.
Meu sonho, meu sonho."


Boston

She said, "you don't know me,
you don't wear my chains".

Não sei se esse lugar conseguiu mudar, ou se nós mudamos de lugar.
Mudamos.
E isso deveria ser bom, não é?

Seus andares, se mudaram para outrora. O número no qual o interfone deveria tocar, não existe mais. Os quartos vazios, aquele quarto vazio; O nosso quarto. Vazio.
Fazem alguns anos, e ainda parece que temos quatorze anos, e ainda somos os mesmos.
Ainda somos os mesmos.
Ainda existimos, em algum lugar.
No quarto vazio.
Nos quatorze anos.
Ainda estamos lá.
Nós,
ainda seremos,
nós;
Nós,
ainda são nós,
esperando, solução.

She said, "I think I'll go to Boston, I think I'll start a new life,
I think I'll start it over, where no one knows my name"

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

nota de rodapé, para não esquecer.

Ainda que os olhos contadores de histórias olhassem lento e desfocados ao redor, tentando responder perguntas que a própria criação não soube responder, eram preocupação.
Talvez estivessem só apreensivos. Tendo suas histórias sendo comprimidas dentro de cada fenda naquelas cores de terra.
Tendo o riso contido. Mergulhado, submerso,
num universo seu.
E por um momento,
meu.
Os olhos pensavam, sentiam, e passavam sua clareza etérica, donos de tudo, e nada.
O riso, ainda que descompromissado, não jazia vazio,
não ainda.
Tinha receio, receio esse que a continha.
A conteve.
Impedindo-a de inundar os olhos que denunciavam, descaradamente, estarem fascinados.
Todos os olhos,
ao redor.
Que por alguns momentos, eram todos, olhares,
dela.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Estranhos, e botões.


"Lady Black, cigarette?

She rolls her own, I should have known."


Chovia, chovia forte. O cinza das nuvens embaçavam a visão, distorciam o alcance.
Não a vi chegar, e parar ao meu lado.
Estava atrasado, mas parei para um cigarro, usei um beiral de bar para me proteger, e acender minha brasa. Quando olhei para o lado, lá estava ela, revirando a bolsa procurando os fósforos. Tinha em mãos um daqueles cigarros compridos, e finos. Como seus saltos, e suas unhas.
– Fogo?, perguntei desinteressado. Por mais que desinteresse fosse o contrário do que meu tom sugeria.
Ela olhava, e revirou os olhos, aceitando. Vi suas cores dançando na íris, e na sombra que usava.
O céu ainda cegava a rua, a calçada, e os carros, mas de longe seria capaz de cegar minha visão dali.
– Está com pressa?, me perguntou, sugerindo suas entrelinhas, com marcadores de texto explícitos.
– Um pouco, parei pela chuva, e um cigarro.
– Então pode me acompanhar.
– Claro, seria um prazer.
Jogamos conversa fora durante uns dez minutos, até ela finalmente perguntar:
–  Qual a sua história, estranho?
Eu tinha uma história para contar, sem dúvida alguma, mas naquele momento não a contaria à ninguém, nem mesmo à ela. Virei o rosto, quando vi a chuva diminuindo seu ritmo aos poucos. Perguntei à ela se gostaria de sair dali, naquela altura já havia esquecido todos meus compromissos, e estava disposto a conhecer, e me deixar conhecer por aquela mulher.
As horas passavam, e agora havíamos deixado o beiral daquele bar, e estávamos num quarto qualquer. Era o centro, e como mágica, as luzes através da janela começaram a se acender uma a uma, nos apartamentos, e nos postes pelas ruas. Enquanto dentro do quarto, jogávamos um jogo. Àquela altura, ela só usava sua camisa preta de linho, com uns poucos botões capazes de esconder o corpo.
Ela disse,  Um botão, por um segredo. Sem nomes, apenas, segredos.
Ela me perguntou sobre meus amores, não os de arrasar quarteirões, os furacões que costumavam levar nome de mulher, ou vice e versa. Perguntou sobre os casuais.

Me intrigou, e me fez pensar sobre eles. Sobre a boêmia entregue naquelas histórias, naqueles segredos. Segredos de uma só noite.
Falava dos olhares, aquelas que antecediam uma noite memorável. Ou uma noite da qual fosse me fazer acordar no dia seguinte, sem me lembrar aonde estava, e com quem estive.
Os olhares.
Em seguida, os lábios.

Então, todo o resto.
Ela se empolgava enquanto ouvia, e intercalava meus segredos com os seus. Com paixão, e nada além disso.
Já havia perdido a conta de quantos cigarros tínhamos acendido até aquele momento, mas isso não importava mais. Ríamos, perdidos dentro da fumaça daquele quarto.
Eu havia entrado naqueles olhos, e naquelas histórias.

Me perdia cada vez mais naqueles lábios, e naquelas pernas.
Me perdia dentro daquela mulher, e não sabia seu nome.

Paramos por um momento, quando o maço havia acabado, sem deixar nenhum cigarro para nós dois. Eram nossos últimos tragos.
Não me importa quem tenha ganho esse jogo, o jogo de encontros casuais. "O jogo de você", como havíamos batizado. Ela me ganhava a cada botão aberto, e eu a tragava um pouco mais dentro daquela fumaça.
Aquele incêndio.

Me lembraria da estranha, e de como nos pertencíamos naquela noite, que deveria ser a primeira, e última.
A única.

O último gole de gim.

Até cerrarmos aqueles cigarros até o fim, até não ter mais botão nenhum para ser aberto.
Até possuí-la, uma vez,
e nunca mais.


"Kiss the way we were, goodbye.
Goodbye, and farewell."

terça-feira, 2 de julho de 2013

03:28

Ontem escrevi uma carta. Com mais ou menos duas páginas, e muitas palavras repetidas.
Muitas delas se reuniam numa mesma frase igual, como "sinto muito, gostaria que estivesse aqui", muitas que, por ventura, poderiam consertar muitas coisas.
Eu a enderecei, para algum lugar que não sei onde fica, ou onde está. Para alguém que nunca poderia recebê-la.
E como poderia, se já não está mais aqui.

Espero que tenha me ouvido, e eu sei que ouviu.
Seria mais fácil ler meus pensamentos enquanto a escrevia, seria bom ter uma resposta.
Se é que ela existe.
Em algum lugar que eu não sei onde fica, ou onde está.

sábado, 29 de junho de 2013

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Sobre essas coisas frágeis, essas coisas simples por todos os lados.

Estava no shopping noite passada, quando uma família se sentou perto de mim. Estavam felizes. Pelo menos o garotinho de uns 5 anos, mais ou menos, parecia estar. Eu os observei quase todo o tempo que estiveram sentados ao meu lado. Foi engraçado, o garotinho dizia ser o rei do mundo com aquela porção de batatas fritas grande, o pai apenas concordava com aquilo. E sorria. A mãe ria de quase todos os "pronunciamentos" que o rei do mundo naquela mesa fazia. Era leve. Eu me sentia feliz enquanto os observava. Gostaria de estar ali, e ser parte daquela alegria momentânea, se é que já não era, mesmo como espectadora.
Percebi como aquilo era simples, e frágil. Ao mesmo tempo que, percebi que nada poderia estragar aquele momento. Eles eram intocáveis. Aquela memória se tornaria intocável, com a mesma força do garoto na mesa, invencível. Não sei se ele um dia vai se lembrar disso, mas eu aposto que vou. E vou me indagar, exatamente como estou fazendo agora, todas as vezes que me lembrar dele.
Daqui alguns anos, quando pensar naquela família, e me perguntar como estão agora. Quando pensar na leveza que aquela noite trouxe para o meu coração, por alguns minutos. Por lembrar de quem eu era com aquela idade, com meus pais ainda juntos. Ou quase isso.
Pensar que aquela família pode continuar sendo a mesma, ou pode ter se separado, nada disso vai importar. Não é disso que se trata. É sobre aquele momento, como ele existiu por alguns minutos, e fez tanta diferença. Sobre como me fez acreditar em algo de novo, depois de muito, muito tempo.

I wish for small things not losing this feeling.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Sobre alguém, em algum lugar.

"Losing direction, you're loosing faith.
You're wishing for someone,
feeling it all begin to slide.
Am I just like you?
All the things you do - can't help myself..."

A porta do quarto está aberta, bem atrás de mim, nesse exato momento.
A porta dá de cara pro corredor, e tá tudo escuro. Todos estão dormindo.
E eu, tenho medo do escuro.
Mas ainda não me virei para fechar a porta, evitando que a escuridão invada meu quarto, ou os poucos fachos de luz que ainda entram pela janela. Não entrei em pânico, tampouco em desespero, como seria de se esperar alguns meses atrás. Acho que ando mentindo para mim mesmo, acreditando que das sombras não vão sair nada, além do vazio. Que a preenche. E tem me preenchido.
Posso me acostumar com isso. Só não sei se quero.
Não lembro dos meus últimos sonhos, e tenho achado isso em parte, saudável. Me poupa dos hematomas, e dos sustos de sempre acordar no chão, cercado de cobertores e suor. Não eram bem, sonhos. Eram mais como situações, pesadelos.
Extremamente reais.
Sei que ele sempre estava neles, tentando me dizer algo. Sua presença por assim dizer, não era pesada, quando o encontrava. Estava sempre sorrindo, como fazia normalmente ao me encontrar. Até que, sempre, em todos eles, ele sucumbia. E se afogava.
Não me lembro dos detalhes, ou das circunstâncias. Mas sempre acordava sozinho no chão do quarto, pensando nele, madrugada a dentro.
Talvez eu esteja tentando acreditar que ele não sucumbira realmente, como nos sonhos, como tentava acreditar que da escuridão nada viria tentar me levar. Talvez eu esteja tentando, e não sei muito bem se estou conseguindo.
Seus olhos são apertados, como de costume, negros, com suas pupilas quase sempre dilatadas. Quase não se pode ver a íris castanha se não vendo bem de perto. Tem feições marcantes, mas o que sempre me chamou mais atenção foram os olhos. A forma como olhava, quando olhava, dizia muito a seu respeito sem necessidade de palavras sendo ditas, gritadas ou proferidas.
Ele sempre me disse a verdade. Eu sempre pude confiar nele.
Nos olhos.
Não no resto.
De alguma forma, eu tinha alguma certeza, sempre que o encontrava, do que ele se tornaria. E agora estou custando a acreditar. Tem sido amargo, como o gosto na minha boca após todos esses pesadelos. Ele não consegue sair de dentro de mim. Eu não consigo deixá-lo ir. Por mais que, ele nem imagine, ou se lembre, ou se importe. Não consegue sair.

Eu estou falando sobre alguém, que agora está em algum lugar do mundo. Sei muito bem onde, mas finjo que não, é melhor. Alguém que não sei se ainda conheço. Alguém cujo os sonhos e convicções se alteraram com o tempo. Alguém como eu.
Alguém que, eu sinto muito... Sinto.
Alguém que sucumbiu ao escuro. E se perdeu.
Como eu tenho feito...
Alguém que não tem mais medo do escuro, e de ninguém.
De nada.
Alguém que, não acredito saber o que vê quando se olha no espelho, ou nas fotografias antigas que guarda, como se não existissem.
Estou falando sobre ele, e sobre você, que acabou de ler isso. Estou falando de mim, e de todos que conheço. Estou falando de alguém que está lá fora, nesse exato momento. No escuro. Sem se incomodar com o que pode se esconder dentro dele.
Alguém que só não se importa mais, com o medo. Com isso.

Alguém que tem acabado comigo, de dentro para fora.
Que se afogou, e eu não pude salvar.


terça-feira, 25 de junho de 2013

02:11

you're a skeleton key, opening me,
my, my;
your mind it is original, girl you're the original
Always were,
and always will be.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

But we're running through the fire,
when there's nothing left to save.
It's like chasing the very last train,
when we both know it's too late.


"Faça de tudo, tudo! Mas, sob hipótese alguma, não permita-me morrer."

Essa foi a última vez que ouvi sua voz, e, não me lembro do timbre, ou da entonação em cada palavra. Lembro-me do desespero nos olhos, e o medo, bem no fundo deles. Lembro-me da água salgada embaixo dos olhos que custava a rolar pelo rosto. Lembro de como segurou minhas mãos,enquanto olhava diretamente para dentro de mim. Ah, eu odiava quando você fazia isso, sabia? Parecia me ver inteiro, por dentro, e por fora. E parecia que não existia nada que eu pudesse esconder desse seu olhar tão invasivo. Sabe, quando como você entrava em mim sem pedir licença.
Odiava ouvir sua hesitação, odiava ver como conseguia pensar antes de falar. Enquanto eu, não tinha controle algum sobre as baboseiras que dizia, o tempo todo. Sem freios, como uma criança brincando com esses objetos cortantes e letais.
Odiava sentir a sua respiração profunda, milésimos antes de decidir que não ia me contar algo. Aqueles milésimos pareciam mais com anos, anos que eu sabia exatamente como iam acabar. Com você, sempre deixando algo por dizer.
Odiava mais ainda, cada dia mais, entregar meu corpo pra você, e mais que isso, minha alma. Todo o meu ser, em toda sua essência, em 5 segundos, do começo ao fim.
Odiava sua fascinação por mim, ou pelo o que eu representava para você. Odiava o fato de você não estar ocupando o mesmo lugar, nos meus pensamentos. E o pior, era saber que você estava em um lugar, que nem mesmo eu posso conhecer. Eu odeio não ter te conhecido antes.
Odeio ter nos intoxicado com tudo isso, odeio te ver assim.
Odeio ver o nome dela cravado nos meus ossos, fazendo com que eles se quebrem cada vez mais. Cada vez que eu ouse pensar em você. Odeio imaginar como o seu nome, a partir de hoje, vai ser letal.
Odeio estar desistindo da minha promessa, odeio estar permitindo à você, morrer. E estar me levando com você.
Odeio 2010 e 2011, por sua causa. Por não ter sido o seu nome escrito, e clamado em tantos dos meus textos e fantasias. Dentro do quarto, e dentro de mim.
E não ter sido diferente.
Odeio cada palavra desse texto, a forma como ele vai se tornar um daqueles de 2011, no ano errado. Odeio saber que esse vai ser o pior de todos. Talvez o único que atualmente não seja vazio, comparado aos daquela época.
Odeio pensar em você desse jeito, e odeio a nossa música tocando sem parar, mesmo sem ter nada tocando lá fora.
Odeio ver como esse texto começou, e agora, como vai terminar.
E sabe, eu ainda não consigo te odiar, nenhum pouco.

Odeio, com cada parte do meu ser, saber que essa noite,
o sangue será meu.
E o nome ecoando dentro dessas paredes,
será o seu.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Radioativa, como ela, dançaram.

Antes de tudo começar, andava pelas ruas com olhos tristes e ombros curvados. Mas não do tipo com problemas de postura, ou problemas com a coluna. Do tipo cansado. Ou até pior, do tipo exausto. Onde não conseguia praticamente mais carregar cada parte do seu ser.
Não sabia mais se estava vivo, ou se só estava respirando. Não tinha prazo de validade, mas se tivesse, ele já teria expirado. Era uma piada de mau gosto que costumava contar à si mesmo. E ria, desesperado, ria na cara da própria dor.
Havia se acostumado ao cansaço, seus olhos não se abriam mais. Não completamente. Algo os puxava para baixo, e não era sono, ou gravidade.
Não gostava das luzes acesas ou das cortinas abertas, nem do cheiro de mofo dentro do apartamento. Nada fazia, não tinha vontade de fazê-lo.
Suas roupas cheiravam a cigarro de longe, o tabaco não só impregnava suas roupas, como todo seu ser. Por dentro, e por fora.
Tinha uma máquina de escrever, sentava a sua frente todos os dias, periodicamente, todas as noites como se esperasse que algo ou alguém chegasse. Olhava pela janela, depois para a porta de entrada. Tomava uma dose e fumava um cigarro. Dormia. E ela nunca chegava.
Ele a esperava sem saber sua forma, sem saber seu nome, ou de onde ela vinha. Só esperava. Com os ombros cansados, e os olhos... aqueles olhos tristes.

Num dia desses, se embebedou com o Rum mais caro que encontrou enquanto voltava pra casa, e voltou a sorrir. Por horas dançou no escuro, sem música. Ouvia o barulho da cidade lá embaixo, os carros, as pessoas, seus bares abarrotados de almas a procura de diversão e liberdade. Ouvia amigos conversando sobre mulheres, mulheres conversando sobre homens, ouvia sexo, violência. Ouvia vozes, gargalhadas e desespero. Ouvia vida lá fora, e ouvia a si mesmo, que estivera morto há tanto tempo, lá dentro.
Se entregou.
Chutou as cadeiras, o tapete, e empurrou a tevê da sala para longe. Dançou, completamente bêbado. Dançou ao ritmo da vida lá fora, dançou sua própria música. Sua vida.
E então ela chegou, arrebatadora, sedutora, viva. Chegou como se destruísse cada metro quadrado de apartamento que a recebia.
Ela o consumiu, entrelaçou-se por entre as pernas, amarrou seus braços, se encaixou de maneira perfeita em seus dedos. E beijou seu pescoço.

O que encontraram na manhã seguinte, foi um forte cheiro de álcool misturado com tabaco, e mofo. Tinha uma folha em sua máquina de escrever, nela estavam escritas sua despedida, como tudo aconteceu, e como sentia aquilo. Como a sentiu.
E sempre sentiu.

"Quebrou minhas pernas.
Ainda posso ouvir os sons dos ossos um a um se partindo.
Meus braços.
E os gritos abafados pelo choro há muito enclausurado. Preso. Sufocado.
Meus dedos.
Uma sequência de primeiro cinco, e então mais cinco. No fim, das minhas contas, vinte.
Meu pescoço.
Não tive chance de ter um último suspiro, e se o tivesse, aposto que o alívio não traria minha força vital de volta.
Não como ela o fizera."


Não houveram indícios de que mais alguém estivera naquele apartamento. Alguns dizem que ele surtou, e como estava completamente embriagado agiu impulsivamente sem pensar nas consequências.
Outros, os poetas, como gosto de chamá-los, dizem que aquela foi a despedida, antes do grande ato final. Dizem que ele recebeu uma visita naquela noite, sim, de uma dama completamente irresistível. A dama da noite, eles dizem. Ele viu, sentiu, e viveu o que era Desejo.
Eles dizem, que ela o levou para perto dela, e o enlouqueceu.
Eles a chamam de inspiração.

Ela foi dele como não foi de ninguém, e dançou naquela noite sua despedida. Ela continua solta por aí, pelas ruas, a assassina mais bela que o mundo já conheceu, e poucos homens tiveram o prazer, de ser o prazer e dançar com ele, por uma noite.

Ela foi dele,
como não foi de ninguém,
eles dizem.



quarta-feira, 5 de junho de 2013

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Dia 364

Minha última boa noite de sono ocorreu há meses, e mal consigo me lembrar dela.
Todas as juntas do meu corpo doem, e se retraem de forma insuportável. Delirante. Tenho aumentado minhas doses de morfina a cada noite, e não sei em que momento essa guerra com meu corpo, e minha mente vai acabar. Meus braços, já não aguentam mais. Quase sou capaz de senti-los alheios ao resto do meu corpo. Hoje fazem 364 dias em que descobri que tenho Osteogénese Imperfeita. Ou ela me tem. Completamente.
Você a conhece como a doença dos ossos de vidro.
Não sabia que a tinha até meus 16 anos de idade, quando todas as minhas quedas se tornavam cada vez mais sérias, e difíceis de serem curadas.
Amanhã faço 17 anos.

Meus pais são divorciados, e se odeiam. Meu pai, não o vejo há quase nove meses, me parece que ele encontrou assuntos mais importantes a tratar. E não ficaria surpreso se esses tais assuntos estivessem diretamente ligados à sua secretária, com quem ele costumava ficar até mais tarde no trabalho, tratando de seus "negócios".
Não posso culpá-lo por preferir fugir disso, ou fugir de mim. Se eu pudesse, faria o mesmo.
Minha mãe tenta não demonstrar, mas tem uma mágoa muito grande dele. Ela tenta ser a melhor do mundo, e tem medo por nós dois. Seu amor já quebrou diversas barreiras, já a fez superar seus problemas com meu pai, por conta da minha doença. Sou grato, e devo minha vida à ela, mas tem ficado cada vez mais difícil. Meu corpo quebradiço tem cada vez mais perdido sua força.
Antes costumava dizer à ela que para cada obstáculo que atravessasse, uma parte minha seria regenerada. Agora, quanto mais nós tentamos, mais ele se desfaz.
Hoje estou decidido a ter uma boa noite de sono, como a que tive há meses atrás. Lembro-me apenas ter sonhado com uma garota, não lembro seu nome, ou a cor de seu cabelo. Não lembro do sorriso, nem dos olhos. Mas sei, com cada parte do meu coração, que ela era a mulher mais linda que já vira. Essa noite gostaria de encontrá-la novamente, e me lembrar dela.

Esquecer de mim, e de todo o resto.
E pensar nela.
Não sei quanto terei de usar essa noite, mas que seja uma dose completa, ou duas. O que for.
Vou vê-la.
E esse será o melhor presente de aniversário do mundo.
Esse será o melhor,
e o último.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Let the seasons begin, it rolls right on.

Santiago, como gostava de ser chamado, se considerava um sonhador.

Quando jovem costumava sonhar acordado. Tinha um dom esplendido, era inocente, e adorava criar, e imaginar coisas. Histórias. Sonhar histórias. Numa de suas aventuras, enquanto dormia, conhecia uma jovem em seus sonhos. Se chamava Maria, gostava do sol, e do campo verde onde sempre costumava correr. Tinha olhos claros, grandes, e curiosos. Era dona de uma boca fina e um rosto delicado, e naquela época, ainda não possuía curvas, Santiago não pensava nessas coisas, ou pelo menos não dava importância à elas. Gostava dela, e de quando conversavam nos sonhos. Ou até mesmo quando se juntavam, e ficavam em silêncio contemplando o sol, e o campo verde.
A medida em que foi crescendo, Santiago continuou sonhando com Maria, ele crescia, e ela também. E ele, adorava isso. Mal podia esperar para encontrá-la. Era sua alegria, sua fantasia. Sua idealização mais fantástica.

Sem dúvidas, teria se casado com aquela mulher se tivesse chance. Se não fosse tão impossível quanto parecia. Se ela não fosse um sonho. E ele o sonhador.

Seu nome, era Bento. Bento Santiago.
e ela, o chamava de Bentinho, sempre o chamou. Adorava ver como suas bochechas coravam quando a ouvia chamando-o assim.
Ela, era Maria.
e ele, a chamava de Capitu. Quando a imaginou, sonhou com esse nome. Ela era Capitu, era mulher, era a sua mulher.

Ela era um sonho.
Devaneio. Deleite. Desejo.
Amor.

Capitu foi o motivo que sempre fez Bentinho correr para seus sonhos. Capitu ainda é.
E ele se rendeu a ela.

Capitu é o sonho, que fez Bentinho não acordar mais.

(Baseado na obra Dom Casmurro, de Machado de Assis)
(Baseado num sonho qualquer)

domingo, 28 de abril de 2013

Algo sobre às 03:36.

Algo sobre como as horas se arrastam, e como o pensamento passou a ser o veneno mais traiçoeiro da face da Terra dentro desse quarto.
Algo sobre fuga, tempo, e espaço.

Algo sobre as estrelas.
Algo sobre Cobain e Blake.

E sobre como isso deve fazer sentido só dentro da minha cabeça.

Sobre explosões, e cometas.
E como a Lua nasceu brilhante essa noite.

Algo sobre ter 17 anos, e estar exatamente onde queria estar.
Ou esperava estar.

Ou gostaria de estar.
Fazer parte.
Se sentir parte.

Algo sobre ter acordado no meio do quarto vermelho, repleto de fumaça.
O incêndio.
Algo sobre ser o incendiário.

Algo sobre como escapar.
Sobre fuga, tempo, e espaço.

Sobre algo.
Apenas, ser,
algo.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Fumaça.

Você se apaixona pela fumaça, você consegue inspirá-la e fazer dela inspiração. Sua visão embaça, e você não precisa de nada além de estar na presença dela. Você não precisa vê-la, tocá-la, senti-la. Você não precisa de nada, você está apaixonado por ela, não é?

Sim, você está.
Até ela acabar com cada parte do seu ser, você está apaixonado. Até ela te deixar no escuro, você continua apaixonado.

Até você tentar agarrá-la com as mãos, e com todo o seu ser.
Até você se asfixiar, e deixá-la sufocá-lo.
Até ela te matar.

Você esteve apaixonado.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Quase onze, do(s)e, e o fim.

Havia se apaixonado por todos aqueles erros. Quase onze.
Por todos os pensamentos sujos, e toda culpa que houvesse em seu coração. Se apaixonou primeiro pelos olhos, depois pela ponta dos dedos. Se apaixonou pelas historias, e pela tristeza contida em sua voz. Se apaixonou pelo tom, e pelo jeito que sorria. E o olhar... ah aquele olhar.
Se apaixonou pela violência, e pela força que fazia para amar. Os poucos momentos. Se apaixonou pelas marcas, e pelo jeito que as deixava.
Se apaixonou pelo gosto mentolado depois de um trago. Se apaixonou pela marca do batom na borda do copo, e pela forma que o rum descia com tanta facilidade depois de tantas doses. Quase doze.
Se apaixonou pelo conjunto de mulher, o pecado. Se apaixonou pelo caos, e fez de si próprio moradia para ele, e para ela.

Se deu conta disso, e despertou.

Não era um pesadelo, não era um sonho bom.
Mas talvez fosse bom demais para ser verdade.

E não era.

domingo, 14 de abril de 2013

.

Eu não podia deixar que o meu amor, e a minha razão de continuar se encontrassem. Não podia deixar que se destruíssem,
me destruíssem.

Nos destruíssem.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

I've seen enough, 23.

Ah, eu já vi demais por hoje.

Teu riso desaforado ecoa na paredes do quarto, e o vermelho na parede, não é mais a cor do teu batom preferido.

Eu já vi demais por hoje.

Teu sorriso cínico e amarelado não carrega nada além de malícia e maldade, suas mãos não mostram o contrário, o toque frio, a pele quase morta.

Eu já vi demais por hoje.

Eu não sei mais onde está e nem quero procurar. O cabelo desbotado agora não brilha mais sobre os lençóis, e a tua vida, vaga por entre esses quartos apagados. Já passou das 23.

Eu já vi demais por hoje.

A cama do hospital agora está vazia, os olhos estão fechados, e o perfume tão singular, tão familiar, não faz mais parte do ar.

Eu já vi demais por hoje, e não quero mais te ver.

E não vou.

Eu não vejo.

domingo, 17 de março de 2013

14.45

Até crescer, até achar coisas pequenas demais essas coisas de amor, até amadurecer, até acordar numa manhã de domingo e saber, que não existe ninguém que vá ligar na manhã seguinte, e ninguém para levar pra casa, até cair em si, e na realidade. Até acordar desse sonho bom, que se tornou pesadelo. Até o mundo fazer sentido e se desfazer lento desse tempo de não girar, eu vou olhar pra sua foto e me fazer tristeza, e ser choque, e a droga da indecisão. Seremos estranhos em salas de estar diferentes, seremos fim, e o começo. Seremos sonhos.

Sonhos que eu tive,
e (se) foram só,
com você.

A Cura.

Tente explicar uma historia de amor tão forte e doentia, que faça sua vida dar um nó. Tente explicar a mesma história de amor acabar sempre da mesma forma, e sempre se repetir. Explique a falta de sono, e cansaço descomunal que traz no corpo. Tente enxergar a mudança, se é que ela existe, tente encontrá-la, e salve-a. Explique o copo vazio, e a borra de café no fundo, dizendo onde tudo começou a dar errado. Imagine o trágico não ser tão mau assim, imagine a sua historia de amor com a saudade, imagine como é recrutar cada vez mais corações para fazer parte dela. Imagine a destruição, imagine o fim.

Imagine a cura, e me encontre, antes que eu esqueça. Me esqueça. Te esqueça.

terça-feira, 12 de março de 2013

interfone;

o batom que pintava os lábios já não é mais tão vermelho, teus lençóis não são de linho, o cabelo enrolado já não cai mais sobre o ombro... o sorriso que já iluminará o quarto, hoje não acende nem a luz do corredor. as roupas pela casa, você já recolheu, o café há muito esfriou, e o cigarro, você não traga mais. não traga o ar, não traga a fumaça, não traga você. a pele, o toque, o corpo a brasa, se apagou, levou consigo as notas que costumava cantar por essas paredes... os olhos negros já não brilham como antes,  o infinito de cores se partiu, a certeza que tinha contigo, se perdeu. fechou as janelas, e o numero do seu andar, eu já não lembro mais.

acabou, acabou...

se me ouvir chegar, me manda embora, e se eu não for, o interfone, deixa tocar.