sábado, 29 de junho de 2013

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Sobre essas coisas frágeis, essas coisas simples por todos os lados.

Estava no shopping noite passada, quando uma família se sentou perto de mim. Estavam felizes. Pelo menos o garotinho de uns 5 anos, mais ou menos, parecia estar. Eu os observei quase todo o tempo que estiveram sentados ao meu lado. Foi engraçado, o garotinho dizia ser o rei do mundo com aquela porção de batatas fritas grande, o pai apenas concordava com aquilo. E sorria. A mãe ria de quase todos os "pronunciamentos" que o rei do mundo naquela mesa fazia. Era leve. Eu me sentia feliz enquanto os observava. Gostaria de estar ali, e ser parte daquela alegria momentânea, se é que já não era, mesmo como espectadora.
Percebi como aquilo era simples, e frágil. Ao mesmo tempo que, percebi que nada poderia estragar aquele momento. Eles eram intocáveis. Aquela memória se tornaria intocável, com a mesma força do garoto na mesa, invencível. Não sei se ele um dia vai se lembrar disso, mas eu aposto que vou. E vou me indagar, exatamente como estou fazendo agora, todas as vezes que me lembrar dele.
Daqui alguns anos, quando pensar naquela família, e me perguntar como estão agora. Quando pensar na leveza que aquela noite trouxe para o meu coração, por alguns minutos. Por lembrar de quem eu era com aquela idade, com meus pais ainda juntos. Ou quase isso.
Pensar que aquela família pode continuar sendo a mesma, ou pode ter se separado, nada disso vai importar. Não é disso que se trata. É sobre aquele momento, como ele existiu por alguns minutos, e fez tanta diferença. Sobre como me fez acreditar em algo de novo, depois de muito, muito tempo.

I wish for small things not losing this feeling.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Sobre alguém, em algum lugar.

"Losing direction, you're loosing faith.
You're wishing for someone,
feeling it all begin to slide.
Am I just like you?
All the things you do - can't help myself..."

A porta do quarto está aberta, bem atrás de mim, nesse exato momento.
A porta dá de cara pro corredor, e tá tudo escuro. Todos estão dormindo.
E eu, tenho medo do escuro.
Mas ainda não me virei para fechar a porta, evitando que a escuridão invada meu quarto, ou os poucos fachos de luz que ainda entram pela janela. Não entrei em pânico, tampouco em desespero, como seria de se esperar alguns meses atrás. Acho que ando mentindo para mim mesmo, acreditando que das sombras não vão sair nada, além do vazio. Que a preenche. E tem me preenchido.
Posso me acostumar com isso. Só não sei se quero.
Não lembro dos meus últimos sonhos, e tenho achado isso em parte, saudável. Me poupa dos hematomas, e dos sustos de sempre acordar no chão, cercado de cobertores e suor. Não eram bem, sonhos. Eram mais como situações, pesadelos.
Extremamente reais.
Sei que ele sempre estava neles, tentando me dizer algo. Sua presença por assim dizer, não era pesada, quando o encontrava. Estava sempre sorrindo, como fazia normalmente ao me encontrar. Até que, sempre, em todos eles, ele sucumbia. E se afogava.
Não me lembro dos detalhes, ou das circunstâncias. Mas sempre acordava sozinho no chão do quarto, pensando nele, madrugada a dentro.
Talvez eu esteja tentando acreditar que ele não sucumbira realmente, como nos sonhos, como tentava acreditar que da escuridão nada viria tentar me levar. Talvez eu esteja tentando, e não sei muito bem se estou conseguindo.
Seus olhos são apertados, como de costume, negros, com suas pupilas quase sempre dilatadas. Quase não se pode ver a íris castanha se não vendo bem de perto. Tem feições marcantes, mas o que sempre me chamou mais atenção foram os olhos. A forma como olhava, quando olhava, dizia muito a seu respeito sem necessidade de palavras sendo ditas, gritadas ou proferidas.
Ele sempre me disse a verdade. Eu sempre pude confiar nele.
Nos olhos.
Não no resto.
De alguma forma, eu tinha alguma certeza, sempre que o encontrava, do que ele se tornaria. E agora estou custando a acreditar. Tem sido amargo, como o gosto na minha boca após todos esses pesadelos. Ele não consegue sair de dentro de mim. Eu não consigo deixá-lo ir. Por mais que, ele nem imagine, ou se lembre, ou se importe. Não consegue sair.

Eu estou falando sobre alguém, que agora está em algum lugar do mundo. Sei muito bem onde, mas finjo que não, é melhor. Alguém que não sei se ainda conheço. Alguém cujo os sonhos e convicções se alteraram com o tempo. Alguém como eu.
Alguém que, eu sinto muito... Sinto.
Alguém que sucumbiu ao escuro. E se perdeu.
Como eu tenho feito...
Alguém que não tem mais medo do escuro, e de ninguém.
De nada.
Alguém que, não acredito saber o que vê quando se olha no espelho, ou nas fotografias antigas que guarda, como se não existissem.
Estou falando sobre ele, e sobre você, que acabou de ler isso. Estou falando de mim, e de todos que conheço. Estou falando de alguém que está lá fora, nesse exato momento. No escuro. Sem se incomodar com o que pode se esconder dentro dele.
Alguém que só não se importa mais, com o medo. Com isso.

Alguém que tem acabado comigo, de dentro para fora.
Que se afogou, e eu não pude salvar.


terça-feira, 25 de junho de 2013

02:11

you're a skeleton key, opening me,
my, my;
your mind it is original, girl you're the original
Always were,
and always will be.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

But we're running through the fire,
when there's nothing left to save.
It's like chasing the very last train,
when we both know it's too late.


"Faça de tudo, tudo! Mas, sob hipótese alguma, não permita-me morrer."

Essa foi a última vez que ouvi sua voz, e, não me lembro do timbre, ou da entonação em cada palavra. Lembro-me do desespero nos olhos, e o medo, bem no fundo deles. Lembro-me da água salgada embaixo dos olhos que custava a rolar pelo rosto. Lembro de como segurou minhas mãos,enquanto olhava diretamente para dentro de mim. Ah, eu odiava quando você fazia isso, sabia? Parecia me ver inteiro, por dentro, e por fora. E parecia que não existia nada que eu pudesse esconder desse seu olhar tão invasivo. Sabe, quando como você entrava em mim sem pedir licença.
Odiava ouvir sua hesitação, odiava ver como conseguia pensar antes de falar. Enquanto eu, não tinha controle algum sobre as baboseiras que dizia, o tempo todo. Sem freios, como uma criança brincando com esses objetos cortantes e letais.
Odiava sentir a sua respiração profunda, milésimos antes de decidir que não ia me contar algo. Aqueles milésimos pareciam mais com anos, anos que eu sabia exatamente como iam acabar. Com você, sempre deixando algo por dizer.
Odiava mais ainda, cada dia mais, entregar meu corpo pra você, e mais que isso, minha alma. Todo o meu ser, em toda sua essência, em 5 segundos, do começo ao fim.
Odiava sua fascinação por mim, ou pelo o que eu representava para você. Odiava o fato de você não estar ocupando o mesmo lugar, nos meus pensamentos. E o pior, era saber que você estava em um lugar, que nem mesmo eu posso conhecer. Eu odeio não ter te conhecido antes.
Odeio ter nos intoxicado com tudo isso, odeio te ver assim.
Odeio ver o nome dela cravado nos meus ossos, fazendo com que eles se quebrem cada vez mais. Cada vez que eu ouse pensar em você. Odeio imaginar como o seu nome, a partir de hoje, vai ser letal.
Odeio estar desistindo da minha promessa, odeio estar permitindo à você, morrer. E estar me levando com você.
Odeio 2010 e 2011, por sua causa. Por não ter sido o seu nome escrito, e clamado em tantos dos meus textos e fantasias. Dentro do quarto, e dentro de mim.
E não ter sido diferente.
Odeio cada palavra desse texto, a forma como ele vai se tornar um daqueles de 2011, no ano errado. Odeio saber que esse vai ser o pior de todos. Talvez o único que atualmente não seja vazio, comparado aos daquela época.
Odeio pensar em você desse jeito, e odeio a nossa música tocando sem parar, mesmo sem ter nada tocando lá fora.
Odeio ver como esse texto começou, e agora, como vai terminar.
E sabe, eu ainda não consigo te odiar, nenhum pouco.

Odeio, com cada parte do meu ser, saber que essa noite,
o sangue será meu.
E o nome ecoando dentro dessas paredes,
será o seu.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Radioativa, como ela, dançaram.

Antes de tudo começar, andava pelas ruas com olhos tristes e ombros curvados. Mas não do tipo com problemas de postura, ou problemas com a coluna. Do tipo cansado. Ou até pior, do tipo exausto. Onde não conseguia praticamente mais carregar cada parte do seu ser.
Não sabia mais se estava vivo, ou se só estava respirando. Não tinha prazo de validade, mas se tivesse, ele já teria expirado. Era uma piada de mau gosto que costumava contar à si mesmo. E ria, desesperado, ria na cara da própria dor.
Havia se acostumado ao cansaço, seus olhos não se abriam mais. Não completamente. Algo os puxava para baixo, e não era sono, ou gravidade.
Não gostava das luzes acesas ou das cortinas abertas, nem do cheiro de mofo dentro do apartamento. Nada fazia, não tinha vontade de fazê-lo.
Suas roupas cheiravam a cigarro de longe, o tabaco não só impregnava suas roupas, como todo seu ser. Por dentro, e por fora.
Tinha uma máquina de escrever, sentava a sua frente todos os dias, periodicamente, todas as noites como se esperasse que algo ou alguém chegasse. Olhava pela janela, depois para a porta de entrada. Tomava uma dose e fumava um cigarro. Dormia. E ela nunca chegava.
Ele a esperava sem saber sua forma, sem saber seu nome, ou de onde ela vinha. Só esperava. Com os ombros cansados, e os olhos... aqueles olhos tristes.

Num dia desses, se embebedou com o Rum mais caro que encontrou enquanto voltava pra casa, e voltou a sorrir. Por horas dançou no escuro, sem música. Ouvia o barulho da cidade lá embaixo, os carros, as pessoas, seus bares abarrotados de almas a procura de diversão e liberdade. Ouvia amigos conversando sobre mulheres, mulheres conversando sobre homens, ouvia sexo, violência. Ouvia vozes, gargalhadas e desespero. Ouvia vida lá fora, e ouvia a si mesmo, que estivera morto há tanto tempo, lá dentro.
Se entregou.
Chutou as cadeiras, o tapete, e empurrou a tevê da sala para longe. Dançou, completamente bêbado. Dançou ao ritmo da vida lá fora, dançou sua própria música. Sua vida.
E então ela chegou, arrebatadora, sedutora, viva. Chegou como se destruísse cada metro quadrado de apartamento que a recebia.
Ela o consumiu, entrelaçou-se por entre as pernas, amarrou seus braços, se encaixou de maneira perfeita em seus dedos. E beijou seu pescoço.

O que encontraram na manhã seguinte, foi um forte cheiro de álcool misturado com tabaco, e mofo. Tinha uma folha em sua máquina de escrever, nela estavam escritas sua despedida, como tudo aconteceu, e como sentia aquilo. Como a sentiu.
E sempre sentiu.

"Quebrou minhas pernas.
Ainda posso ouvir os sons dos ossos um a um se partindo.
Meus braços.
E os gritos abafados pelo choro há muito enclausurado. Preso. Sufocado.
Meus dedos.
Uma sequência de primeiro cinco, e então mais cinco. No fim, das minhas contas, vinte.
Meu pescoço.
Não tive chance de ter um último suspiro, e se o tivesse, aposto que o alívio não traria minha força vital de volta.
Não como ela o fizera."


Não houveram indícios de que mais alguém estivera naquele apartamento. Alguns dizem que ele surtou, e como estava completamente embriagado agiu impulsivamente sem pensar nas consequências.
Outros, os poetas, como gosto de chamá-los, dizem que aquela foi a despedida, antes do grande ato final. Dizem que ele recebeu uma visita naquela noite, sim, de uma dama completamente irresistível. A dama da noite, eles dizem. Ele viu, sentiu, e viveu o que era Desejo.
Eles dizem, que ela o levou para perto dela, e o enlouqueceu.
Eles a chamam de inspiração.

Ela foi dele como não foi de ninguém, e dançou naquela noite sua despedida. Ela continua solta por aí, pelas ruas, a assassina mais bela que o mundo já conheceu, e poucos homens tiveram o prazer, de ser o prazer e dançar com ele, por uma noite.

Ela foi dele,
como não foi de ninguém,
eles dizem.



quarta-feira, 5 de junho de 2013

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Dia 364

Minha última boa noite de sono ocorreu há meses, e mal consigo me lembrar dela.
Todas as juntas do meu corpo doem, e se retraem de forma insuportável. Delirante. Tenho aumentado minhas doses de morfina a cada noite, e não sei em que momento essa guerra com meu corpo, e minha mente vai acabar. Meus braços, já não aguentam mais. Quase sou capaz de senti-los alheios ao resto do meu corpo. Hoje fazem 364 dias em que descobri que tenho Osteogénese Imperfeita. Ou ela me tem. Completamente.
Você a conhece como a doença dos ossos de vidro.
Não sabia que a tinha até meus 16 anos de idade, quando todas as minhas quedas se tornavam cada vez mais sérias, e difíceis de serem curadas.
Amanhã faço 17 anos.

Meus pais são divorciados, e se odeiam. Meu pai, não o vejo há quase nove meses, me parece que ele encontrou assuntos mais importantes a tratar. E não ficaria surpreso se esses tais assuntos estivessem diretamente ligados à sua secretária, com quem ele costumava ficar até mais tarde no trabalho, tratando de seus "negócios".
Não posso culpá-lo por preferir fugir disso, ou fugir de mim. Se eu pudesse, faria o mesmo.
Minha mãe tenta não demonstrar, mas tem uma mágoa muito grande dele. Ela tenta ser a melhor do mundo, e tem medo por nós dois. Seu amor já quebrou diversas barreiras, já a fez superar seus problemas com meu pai, por conta da minha doença. Sou grato, e devo minha vida à ela, mas tem ficado cada vez mais difícil. Meu corpo quebradiço tem cada vez mais perdido sua força.
Antes costumava dizer à ela que para cada obstáculo que atravessasse, uma parte minha seria regenerada. Agora, quanto mais nós tentamos, mais ele se desfaz.
Hoje estou decidido a ter uma boa noite de sono, como a que tive há meses atrás. Lembro-me apenas ter sonhado com uma garota, não lembro seu nome, ou a cor de seu cabelo. Não lembro do sorriso, nem dos olhos. Mas sei, com cada parte do meu coração, que ela era a mulher mais linda que já vira. Essa noite gostaria de encontrá-la novamente, e me lembrar dela.

Esquecer de mim, e de todo o resto.
E pensar nela.
Não sei quanto terei de usar essa noite, mas que seja uma dose completa, ou duas. O que for.
Vou vê-la.
E esse será o melhor presente de aniversário do mundo.
Esse será o melhor,
e o último.