quinta-feira, 27 de junho de 2013

Sobre alguém, em algum lugar.

"Losing direction, you're loosing faith.
You're wishing for someone,
feeling it all begin to slide.
Am I just like you?
All the things you do - can't help myself..."

A porta do quarto está aberta, bem atrás de mim, nesse exato momento.
A porta dá de cara pro corredor, e tá tudo escuro. Todos estão dormindo.
E eu, tenho medo do escuro.
Mas ainda não me virei para fechar a porta, evitando que a escuridão invada meu quarto, ou os poucos fachos de luz que ainda entram pela janela. Não entrei em pânico, tampouco em desespero, como seria de se esperar alguns meses atrás. Acho que ando mentindo para mim mesmo, acreditando que das sombras não vão sair nada, além do vazio. Que a preenche. E tem me preenchido.
Posso me acostumar com isso. Só não sei se quero.
Não lembro dos meus últimos sonhos, e tenho achado isso em parte, saudável. Me poupa dos hematomas, e dos sustos de sempre acordar no chão, cercado de cobertores e suor. Não eram bem, sonhos. Eram mais como situações, pesadelos.
Extremamente reais.
Sei que ele sempre estava neles, tentando me dizer algo. Sua presença por assim dizer, não era pesada, quando o encontrava. Estava sempre sorrindo, como fazia normalmente ao me encontrar. Até que, sempre, em todos eles, ele sucumbia. E se afogava.
Não me lembro dos detalhes, ou das circunstâncias. Mas sempre acordava sozinho no chão do quarto, pensando nele, madrugada a dentro.
Talvez eu esteja tentando acreditar que ele não sucumbira realmente, como nos sonhos, como tentava acreditar que da escuridão nada viria tentar me levar. Talvez eu esteja tentando, e não sei muito bem se estou conseguindo.
Seus olhos são apertados, como de costume, negros, com suas pupilas quase sempre dilatadas. Quase não se pode ver a íris castanha se não vendo bem de perto. Tem feições marcantes, mas o que sempre me chamou mais atenção foram os olhos. A forma como olhava, quando olhava, dizia muito a seu respeito sem necessidade de palavras sendo ditas, gritadas ou proferidas.
Ele sempre me disse a verdade. Eu sempre pude confiar nele.
Nos olhos.
Não no resto.
De alguma forma, eu tinha alguma certeza, sempre que o encontrava, do que ele se tornaria. E agora estou custando a acreditar. Tem sido amargo, como o gosto na minha boca após todos esses pesadelos. Ele não consegue sair de dentro de mim. Eu não consigo deixá-lo ir. Por mais que, ele nem imagine, ou se lembre, ou se importe. Não consegue sair.

Eu estou falando sobre alguém, que agora está em algum lugar do mundo. Sei muito bem onde, mas finjo que não, é melhor. Alguém que não sei se ainda conheço. Alguém cujo os sonhos e convicções se alteraram com o tempo. Alguém como eu.
Alguém que, eu sinto muito... Sinto.
Alguém que sucumbiu ao escuro. E se perdeu.
Como eu tenho feito...
Alguém que não tem mais medo do escuro, e de ninguém.
De nada.
Alguém que, não acredito saber o que vê quando se olha no espelho, ou nas fotografias antigas que guarda, como se não existissem.
Estou falando sobre ele, e sobre você, que acabou de ler isso. Estou falando de mim, e de todos que conheço. Estou falando de alguém que está lá fora, nesse exato momento. No escuro. Sem se incomodar com o que pode se esconder dentro dele.
Alguém que só não se importa mais, com o medo. Com isso.

Alguém que tem acabado comigo, de dentro para fora.
Que se afogou, e eu não pude salvar.


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