quinta-feira, 15 de novembro de 2012

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Agora são 06:32 da manhã de um feriado, acho que não sei mais o que são meus horários.

Ou boas noites de sono.

Alexithymia;

"Os sonhos estão ficando piores." disse enquanto abria os olhos, estava cansada, e não sabia se estava realmente acordada.

- Você ainda não pode controlá-los, não é?

Era ele. Aquele que a mantinha em cativeiro, num quarto escuro. Sem luz, sem vida. Sem nada. Ela estava lá havia algum tempo, e havia se acostumado a sonhar dentro daquele sonho. Parecia loucura, mas aquele, era o seu novo lar.

- Eu tento, mas, não consigo. Controlá-los seria algo parecido com... perder alguma coisa. Ou abrir mão de algo, não sei explicar, eu sempre me perco no caminho...
- Você não acha que já perdeu tudo? Ou melhor, não acha que já veio para cá sem nada?

Nada.

 Aquilo doía. Ela não aguentava pensar na possibilidade de estar vazia. Não tinha nada. E o que pensava ter, passava longe de ser algo bom.

- E o que você ganha me mantendo aqui? Acha que vai muito longe? Uma hora... você sabe... eu vou acordar.
- Eu não ganho nada, você sabe disso. Na verdade ganho a sua companhia, e sendo sincero, me chega a ser entediante.
- Me deixe ir embora, tenho certeza que quando sair daqui seu tédio vai acabar.
- Mas aí, eu ficaria sozinho... De novo.

Ela já o havia deixado em tempos mais fáceis que esses. E sabia que a criatura que a mantinha ali não possuía medo algum. Tinha apenas um, e ela sabia exatamente do que era feito seu medo.

"Solidão"

- Você tem medo da própria solidão.
- Não me surpreende você saber disso.
- Porque também não vai embora? Ao invés de ficar aqui, sozinho, cuidando de uma terra morta, sem futuro algum...
- Porque outros como você, de tempos em tempos me procuram. E precisam disso, mesmo sem querer precisar.
- Te procuram, não sei para quê... Se esperam melhorar, não deveriam andar por lugares como esse.
- Eu sou o seu duplo sombrio. Somos opostos, e compartilhamos só uma coisa em comum.
- O medo.
- Exato.Você me imaginou. Você me deu vida, moldando-me em sua diferença e semelhança.
- Sei disso.
- Não são todos que me procuram. Na verdade, ninguém me procura, além de você.
- Mas então porque você disse que...
- Existem outros COMO eu dentro de outros COMO você. Todos tem seu duplo sombrio, mas nem todos o aceitam.
- E porque alguém deveria aceitar algo como você?
- Porque isso faz parte do entendimento, e da evolução.

Tudo ficou um pouco mais claro. E se já não estivesse dentro da sua própria cabeça, diria ter imaginado faixas de luz entrando pelas frestas velhas e enferrujadas das janelas.

- Evolução. Aceitar seu duplo sombrio como parte de si, para que?
- Não sentir mais medo. Crescer, sem perder aquilo que tem de mais importante.
- O que é?
- Você já sabe.

"Fé"
Aquela palavra soava forte, a fez ficar tonta por alguns momentos.

- Estou me sentindo mal, acho que vou... vou...

Desmaiou.

Ele sabia. Ela havia se desacostumado com aquele sentimento. Ela havia se acostumado com a escuridão, e por mais que implorasse para sair, ele sabia que ela não aguentaria metade do que a esperava lá fora. Ele não a deixava ir, e não podia interferir no processo. Ela precisava ficar bem, mesmo que para isso ele precisasse abraçar a solidão uma vez mais. Ela precisava aceitá-lo.

Ela precisava acordar.

"Chegou a hora. Para ganhar a vida, basta perdê-la."


With downcast eyes,
there's more to living than being alive.
With downcast eyes,
there's more to living than being alive.