segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Desmentida, despedida, desmedida.

"Talvez tenha mais sorte com alguém que não carregue o seu nome"

Deu de ombros, se virou, e sumiu no meio de pessoas. No mar cheio delas.
E se misturou, como se fosse ninguém.

Desmentiu a despedida, desmedida, cansada de tentar.
Foi pra não voltar, e foi, levou meu sono. Quase desarmada. Munida com nada além de bolsos vazios, e mãos em concha. E coração. Foi, e foi pra não voltar!, me disseram. Levou travesseiro, escova de dente, e a garrafa do meu melhor sossega leão. Agora, sossega coração. Quero ir embora.
Bom, quis. Até você dobrar a esquina.

Dessa vez, não vou. Não vou até lá cuidar das tuas insanidades, não vou pegar pra criar.
Você dizia, você dizia que não sabia de nada. Mas, quem não sabia era eu. Você dizia que não fora enganada, mas, quem é que se engana senão o que grita em brasa? Em brasa de pele quente, dizem. Quem é, senão o suor que desce pelos dedos? Quem mente? Quem, (só)mente.

Desmentindo a tua ida, desmentindo a tua ira.
Desmedida. Sempre foi.
Aquilo não foi nada.
Nada, e você nada.
Nada, e você nada contra mim.

Talvez tenha mais sorte com alguém, que vá carregar o teu nome!, disseram.
Ah, vá, diga que vá.
Diga que vá, e que não volta.

Finja que vai, não olha pra trás,
não olha, finge que vai,
mas, sabe que volta.
Há de voltar.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Nove horas.

Preciso de uma pancada na cabeça.
Uma pancada forte resolveria muitas coisas.

Passei o dia fechada dentro do quarto, com o quarto fechado só para mim. Não vi claridade, quando abri a porta para pegar um copo d´água e lavar o rosto, já havia anoitecido. Passei o dia aqui dentro, sem muito mais que minha cabeça, o computador e a música no mp3.
Quando acordei no horário de costume para os afazeres do dia, resolvi que não faria nada. Nada.
Eu precisava não fazer nada. Hoje, talvez o dia não me permitisse mais ou menos que isso.
Estou desgastada até os ossos.
Fiz, ao longo do dia, uma análise completa daquilo o que sou, tenho, e vejo ao redor.
Soube hoje, que um antigo professor do ensino médio que tive, era na verdade, um pedófilo enrustido por milhares de camadas de carisma, e discursos de moral e boa conduta. Passei o dia no quarto, vendo as notícias a respeito do caso, e se soubesse do barulho que andam fazendo por isso... Repensaria a opção de entrar na internet durante uma semana, ou até mais. Agora o fazem como uma péssima pessoa, expressam a decepção e a raiva, como se isso alterasse o resultado do acontecido. Como se ler e protestar durante dias fosse alterar o fim da matéria do jornal, ou o fato de ter sido algum conhecido a cometer atrocidade tão grande, e absurda. Isso acontece o tempo todo.
O tempo todo.
O cara que se aproveita de garotinhas.
O cara que se aproveita de todo mundo, e ninguém sabe até isso ir parar no jornal local.

Droga, eu já disse que estava desgastada até os ossos antes. Desgaste de pessoas.
Amo pessoas, mas, é claro, na minha cabeça isso precisava se tornar algo doentio. Precisava, e se tornou. Chega de alimentar esses egos. Chega de alimentar você.
Não estou sozinha. Ontem, tive um ombro à quem pudesse encostar a cabeça e todo esse peso cotidiano na volta para casa. Num ônibus. Um amigo.
Não estou "sozinha de pessoas", não. Só não tenho vontade de procurá-las, ou fazê-las notar qualquer coisa. Hora de ser egoísta.
Estou sendo sincera demais, e nunca apliquei essa radicalidade à minha escrita. E talvez, isso nem faça diferença. Resolva o problema, me acerte com força. No lobo temporal, com muita força. Me faça acordar do coma, sem lembrar nem do próprio nome. Faça-o, você o quer, e eu preciso disso. Faça-o.

— Você tem "essa coisa" com comas, não é?
Penso nessa pergunta todos os dias, desde então.

Penso que nunca tenha acordado de um. Penso que ainda lembro o suficiente para não querer acordar com uma memória intacta. E seja melhor assim.
Ainda estou dormindo.
Ainda não acordei, decidindo não fazer nada.
Fechando as portas e janelas ligadas ao mundo exterior.
Não acordei.

Coma.
Pancada.
Ainda lembro do meu nome.
Nome, o lugar ao qual devo pertencer, pessoas.
O que tenho.
Ainda me lembro.

Estou dormindo.
E ainda me lembro.
O coma.
A pancada.
Não foi forte o bastante.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Meia-noite e... Em que ano estamos mesmo?

Outra noite.

E começa sempre assim. Hoje eu estou usando o mesmo pijama de três dias atrás, e pedi comida chinesa. Sempre desconfiei da culinária chinesa, sempre. Sempre tive uma certa resistência à coisas do gênero, você sabe, essa comida saudável cheia de vegetais que você nunca saberá de onde veio. Mas, bom, parece que isso não importou hoje. Não fez quaisquer sombra de diferença.
Tem esse relógio digital gigante (e imaginário), e eu olho para ele todas as noites. Sabendo que tem algo de errado, sabendo da contagem regressiva. Sabendo de cada segundo perdido, ao longo do dia, todos os dias.
Tem algo errado, não sei com qual de nós dois.
Há alguns dias tenho andado cansada, e quase o tempo todo, sem fome. Largo a caixinha do frango xadrez nas primeiras três garfadas. Tenho convivido há muito só com essa regra de três.
Três garfadas na comida. Três copos de café por dia. E por fim, três calmantes.
Não tem funcionado muito bem. Não tenho ninguém (que precise) para dizer que isso vai acabar com o meu organismo, saúde e blá blá blá.
Não tenho esse "jeito" para escrever. Não tenho esse "estilo" mágico. Faço-o atualmente por ócio, há muito aquele brilho nos olhos quase incandescente desapareceu. Estrela cadente, só que agora, (de)cadente.
Fazem alguns anos que deixei aquela dívida com os outros, aquela satisfação, aquela desculpa. Se hoje não me pareço com quem fui há anos atrás, com certeza, é por isso. Talvez o cabelo tenha crescido, e adquirido mais três tons diferentes (regra de três, de novo?), os traços do rosto são mais rígidos, e as linhas estejam aparecendo mais. Fisicamente não mudei muito. Agora, por dentro, você não gostaria de ver o estrago.
É uma bagunça, mas, prefiro não entrar em detalhes.
Moro sozinha, e venho tendo dificuldade para manter contato com o mundo exterior. Vou para a Redação durante o dia, volto para casa no fim da tarde. Paro, vez ou outra, num bar perto do prédio para matar aqueles poucos leões que passei o dia engolindo. Ou melhor dizendo, para afogá-los temporariamente, até a manhã seguinte.
Tem sido assim, e eu nem sei quanto tempo faz.

Hoje, por poucos segundos, tive um vislumbre. Foram poucos momentos de uma espécie de explosão. Explosão dentro de mim, dos orgãos, do sistema nervoso inteiro. Seu olhar, curioso, como sempre, nada expressou além de surpresa, e em seguida, indiferença. Não é pra menos. Ainda assim, me fez explodir. Tentei dizer algo, mas, a voz não saía, e a cabeça não formulava frase que fizesse sentido.
Em tempos, eu não sentia tanto. Nem a bateria de injeções por culpa de uma gripe cruel no mês passado, pareceu tanto. Meus braços eram todo êxtase.
Tenho alguns problemas, e descobrir que depois de tantos anos, você ainda é um deles, em nada melhorou o meu dia. A culpa não é sua, nunca foi. Mas, carregá-la, se tornou um fardo demasiado alto, até para mim.
Você não deve ter notícias minhas, há o que? Um ano? Bastante tempo. Quase não o vi passar, e como mudou. Mudaram as estações, e junto com elas, tudo mudou, sim. A cor da parede, os móveis, a roupa de cama. O aumento na medicação, as olheiras, a falta de sono. A rotina, as pessoas, o fim de tarde. Os fins de tarde em que nos enrolávamos naqueles lençóis velhos, e coloridos que você costumava adorar. 
(Aqueles fins de tarde, em que hoje, sem pensar muito, se me oferecesse uma outra vez, aceitaria. Se me oferecesse cama, os lençóis coloridos, e você sem nada além daquele sorriso de fim de tarde, aceitaria). Até o que eu costumava pedir quando saíamos, mudou. Até meia hora atrás, estava com uma caixinha de comida chinesa em mãos, cara, não sei o que pode ser mais surpreendente do que isso. Regra de três.
Ano de três.
Tive aproximadamente três em tudo, a vida toda.

Outra noite, que vai terminar diferente das outras, e que vai se repetir até quando meu cérebro achar outra coisa com o que se ocupar. Até meus braços resolverem sair do êxtase, e o sistema nervoso não estiver mais tão abalado.
Você vai dar trabalho essa noite. E por essa, nem você esperava, huh?

Goodnight, travel well, eu diria.