quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Nove horas.

Preciso de uma pancada na cabeça.
Uma pancada forte resolveria muitas coisas.

Passei o dia fechada dentro do quarto, com o quarto fechado só para mim. Não vi claridade, quando abri a porta para pegar um copo d´água e lavar o rosto, já havia anoitecido. Passei o dia aqui dentro, sem muito mais que minha cabeça, o computador e a música no mp3.
Quando acordei no horário de costume para os afazeres do dia, resolvi que não faria nada. Nada.
Eu precisava não fazer nada. Hoje, talvez o dia não me permitisse mais ou menos que isso.
Estou desgastada até os ossos.
Fiz, ao longo do dia, uma análise completa daquilo o que sou, tenho, e vejo ao redor.
Soube hoje, que um antigo professor do ensino médio que tive, era na verdade, um pedófilo enrustido por milhares de camadas de carisma, e discursos de moral e boa conduta. Passei o dia no quarto, vendo as notícias a respeito do caso, e se soubesse do barulho que andam fazendo por isso... Repensaria a opção de entrar na internet durante uma semana, ou até mais. Agora o fazem como uma péssima pessoa, expressam a decepção e a raiva, como se isso alterasse o resultado do acontecido. Como se ler e protestar durante dias fosse alterar o fim da matéria do jornal, ou o fato de ter sido algum conhecido a cometer atrocidade tão grande, e absurda. Isso acontece o tempo todo.
O tempo todo.
O cara que se aproveita de garotinhas.
O cara que se aproveita de todo mundo, e ninguém sabe até isso ir parar no jornal local.

Droga, eu já disse que estava desgastada até os ossos antes. Desgaste de pessoas.
Amo pessoas, mas, é claro, na minha cabeça isso precisava se tornar algo doentio. Precisava, e se tornou. Chega de alimentar esses egos. Chega de alimentar você.
Não estou sozinha. Ontem, tive um ombro à quem pudesse encostar a cabeça e todo esse peso cotidiano na volta para casa. Num ônibus. Um amigo.
Não estou "sozinha de pessoas", não. Só não tenho vontade de procurá-las, ou fazê-las notar qualquer coisa. Hora de ser egoísta.
Estou sendo sincera demais, e nunca apliquei essa radicalidade à minha escrita. E talvez, isso nem faça diferença. Resolva o problema, me acerte com força. No lobo temporal, com muita força. Me faça acordar do coma, sem lembrar nem do próprio nome. Faça-o, você o quer, e eu preciso disso. Faça-o.

— Você tem "essa coisa" com comas, não é?
Penso nessa pergunta todos os dias, desde então.

Penso que nunca tenha acordado de um. Penso que ainda lembro o suficiente para não querer acordar com uma memória intacta. E seja melhor assim.
Ainda estou dormindo.
Ainda não acordei, decidindo não fazer nada.
Fechando as portas e janelas ligadas ao mundo exterior.
Não acordei.

Coma.
Pancada.
Ainda lembro do meu nome.
Nome, o lugar ao qual devo pertencer, pessoas.
O que tenho.
Ainda me lembro.

Estou dormindo.
E ainda me lembro.
O coma.
A pancada.
Não foi forte o bastante.

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