terça-feira, 5 de novembro de 2013

Meia-noite e... Em que ano estamos mesmo?

Outra noite.

E começa sempre assim. Hoje eu estou usando o mesmo pijama de três dias atrás, e pedi comida chinesa. Sempre desconfiei da culinária chinesa, sempre. Sempre tive uma certa resistência à coisas do gênero, você sabe, essa comida saudável cheia de vegetais que você nunca saberá de onde veio. Mas, bom, parece que isso não importou hoje. Não fez quaisquer sombra de diferença.
Tem esse relógio digital gigante (e imaginário), e eu olho para ele todas as noites. Sabendo que tem algo de errado, sabendo da contagem regressiva. Sabendo de cada segundo perdido, ao longo do dia, todos os dias.
Tem algo errado, não sei com qual de nós dois.
Há alguns dias tenho andado cansada, e quase o tempo todo, sem fome. Largo a caixinha do frango xadrez nas primeiras três garfadas. Tenho convivido há muito só com essa regra de três.
Três garfadas na comida. Três copos de café por dia. E por fim, três calmantes.
Não tem funcionado muito bem. Não tenho ninguém (que precise) para dizer que isso vai acabar com o meu organismo, saúde e blá blá blá.
Não tenho esse "jeito" para escrever. Não tenho esse "estilo" mágico. Faço-o atualmente por ócio, há muito aquele brilho nos olhos quase incandescente desapareceu. Estrela cadente, só que agora, (de)cadente.
Fazem alguns anos que deixei aquela dívida com os outros, aquela satisfação, aquela desculpa. Se hoje não me pareço com quem fui há anos atrás, com certeza, é por isso. Talvez o cabelo tenha crescido, e adquirido mais três tons diferentes (regra de três, de novo?), os traços do rosto são mais rígidos, e as linhas estejam aparecendo mais. Fisicamente não mudei muito. Agora, por dentro, você não gostaria de ver o estrago.
É uma bagunça, mas, prefiro não entrar em detalhes.
Moro sozinha, e venho tendo dificuldade para manter contato com o mundo exterior. Vou para a Redação durante o dia, volto para casa no fim da tarde. Paro, vez ou outra, num bar perto do prédio para matar aqueles poucos leões que passei o dia engolindo. Ou melhor dizendo, para afogá-los temporariamente, até a manhã seguinte.
Tem sido assim, e eu nem sei quanto tempo faz.

Hoje, por poucos segundos, tive um vislumbre. Foram poucos momentos de uma espécie de explosão. Explosão dentro de mim, dos orgãos, do sistema nervoso inteiro. Seu olhar, curioso, como sempre, nada expressou além de surpresa, e em seguida, indiferença. Não é pra menos. Ainda assim, me fez explodir. Tentei dizer algo, mas, a voz não saía, e a cabeça não formulava frase que fizesse sentido.
Em tempos, eu não sentia tanto. Nem a bateria de injeções por culpa de uma gripe cruel no mês passado, pareceu tanto. Meus braços eram todo êxtase.
Tenho alguns problemas, e descobrir que depois de tantos anos, você ainda é um deles, em nada melhorou o meu dia. A culpa não é sua, nunca foi. Mas, carregá-la, se tornou um fardo demasiado alto, até para mim.
Você não deve ter notícias minhas, há o que? Um ano? Bastante tempo. Quase não o vi passar, e como mudou. Mudaram as estações, e junto com elas, tudo mudou, sim. A cor da parede, os móveis, a roupa de cama. O aumento na medicação, as olheiras, a falta de sono. A rotina, as pessoas, o fim de tarde. Os fins de tarde em que nos enrolávamos naqueles lençóis velhos, e coloridos que você costumava adorar. 
(Aqueles fins de tarde, em que hoje, sem pensar muito, se me oferecesse uma outra vez, aceitaria. Se me oferecesse cama, os lençóis coloridos, e você sem nada além daquele sorriso de fim de tarde, aceitaria). Até o que eu costumava pedir quando saíamos, mudou. Até meia hora atrás, estava com uma caixinha de comida chinesa em mãos, cara, não sei o que pode ser mais surpreendente do que isso. Regra de três.
Ano de três.
Tive aproximadamente três em tudo, a vida toda.

Outra noite, que vai terminar diferente das outras, e que vai se repetir até quando meu cérebro achar outra coisa com o que se ocupar. Até meus braços resolverem sair do êxtase, e o sistema nervoso não estiver mais tão abalado.
Você vai dar trabalho essa noite. E por essa, nem você esperava, huh?

Goodnight, travel well, eu diria.

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