quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Boa noite, acho que vai precisar.

O lugar era escuro, e ela havia sido jogada lá. Ou quase isso. Não havia sol, nem chuva. Mas era um clima desagradável, e as temperaturas eram altas. Todas as formas, e paisagens daquele lugar tinham uma forma única. Como se tivessem sido sonhadas por algum tipo de maluco paciente em uma ala psiquiátrica de uma clínica qualquer. Era de certa forma, perturbador.
 - Isso não se parece com a Terra dos Corações Partidos...
"- E não é."
Ecoou uma voz vindo de lugar nenhum, ou de todos os lugares. Ela não possuía noção nenhuma de localização dentro daquela escuridão.

- Quem está ai?! E ONDE EU ESTOU?
A voz saiu de dentro das sombras onde se escondia, e mostrou quem era.

- Você. Eu não o via há tempos... Mas se está aqui, tem algo errado.

Era dono de um semblante familiar, talvez modificado pelo tempo, mas ainda assim familiar. Tinha traços mais maduros, possuía algumas cicatrizes no rosto, e provavelmente no resto do corpo também. Agora parecia bem ferido, mas não apresentava perigo. Não como antes.

"- E você ainda tem alguma dúvida?" respondeu. Era dono de uma voz serena, séria, mas ainda sim tranquila.

Se ela não o conhecesse tão bem, diria que seria impossível reconhecê-lo daquele jeito. Estava tão diferente. Assim como ela. 

- Onde eu estou, e porque você me trouxe até aqui?
- Você veio até aqui sozinha, por vontade própria. Digamos que seja uma parte da sua cabeça.
- Então isso é um sonho?
- Eu não acreditaria muito nisso, mas, por hora podemos dizer que sim.
- Porque eu estou aqui, ou melhor, o que eu vim fazer aqui?
-  Já olhou ao redor? Isso aqui não é uma paisagem muito bonita, me corrija se estiver errado. Você está em  um dos meus domínios, e não posso mentir que estou surpreso em vê-la novamente. Me diga você o que veio fazer aqui.
- Mas, eu pensei que as coisas não estivessem tão ruins assim. Eu não pensei que fosse voltar a te encontrar.
- As coisas estão, e você precisou vir até mim pra perceber isso. Mas claro, deve ter se embolado em tantas mentiras que mal consegue acreditar nisso.

A voz dele ficava mais grave a cada palavra, mais um pouco, e seria impossível pensar que estava falando com a mesma pessoa. Ou seja lá o que ele fosse.

- Se são mentiras, você sabe que me fazem bem.
- Você está aqui, a essa altura já deveria saber que perdeu o chão, e você só acredita que fazem.
- Eu quero acordar. - ela disse, quase em prantos.

Estava desesperada, e só pensava em acordar de mais um pesadelo.
Só mais um sonho ruim...

- Você já está acordada. Mas como eu já disse antes, está em um dos meus domínios, e não é você que decide quando vai sair.
- Você está na minha cabeça, e ela é minha. Essa vida é minha e você não é ninguém para poder me prender aqui.

"Eu sou você."

As palavras ecoaram aonde estavam durante um tempo, e quando pararam, um silêncio mortal  invadiu o quarto. O silêncio a invadiu, e a deixou sem reação. Ela não conseguia dizer nada, apenas o encarava, com a cara de alguém que acaba de acordar depois de noites mal dormidas, e sonhos ruins. Muitos deles.

Ele estava certo, e tudo, começava a fazer sentido para ela.

"Iki o shitakute, koko wa kurushikute.
Yami o miageru dake no yoru wa,
Mogaku gen'atsushou no daibaa." 
(Diver, Nico Touches the Walls)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

IN COMA.

A inércia fixa o corpo sem vida preso ao leito já frio e esquecido há tempos. Os olhos não se abriam, e não era possível sentir parte alguma do corpo naquela altura. Os joelhos estavam ralados, os braços doloridos, as mãos já não mexiam mais um sequer dedo. Mas o que mais doía, era sua cabeça. Estava atordoada, já que o sistema motor não respondia as ordens que lhe eram dadas, o sistema nervoso trabalhava o dobro, ou até mesmo o triplo. Estava em pânico. E ninguém podia ver. Ela havia perdido tudo. Não tinha nada. Não fazia parte de nada. Não era nada.

Não mais.

Os anos passavam como passam os carros, um milésimo antes de acertar alguém. Aquilo queimava. E tudo girava em sua cabeça. Os olhos ainda estavam fechados, e o corpo frio e inerte. Eram criados redemoinhos de fogo, eram criadas cenas das quais lutava para deixar. Nasciam alucinações, e ela nada podia fazer. Os olhos permaneciam fechados, e o corpo que por dentro tanto queimava, por fora não possuía sinal algum de reação. O que ninguém sabia, era que estava sonhando. Mas na verdade, sonhando acordada. Aquilo era um sonho desperto. Ela era uma sonhadora desperta, e não fazia ideia do que isso poderia significar.

Alguns malditos fios à prendiam a isso, e ela não sabia até quando poderia suportar.

Por fora, ainda parecia estar dormindo, era dona de uma expressão quase serena, mas por dentro, pode ter certeza, ela enfrentava cada um dos seus nove círculos infernais.

    And still it's not enough - save yourself and demonize us.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

tens a alma vazia, meu coração...

Acordou.
Possuía olhos de quem passava noites em claro. Talvez chorando, ou talvez preocupada demais para fechar os olhos e descansar.
Possuía olhos de quem havia perdido alguma coisa, olhos de quem havia se perdido.
A raiva que sentia naquela manhã era incontestável, talvez um passo em falso e um esbarrão nela poderiam resultar em uma briga tola, e absolutamente sem sentido. Aquilo que sentia não tinha nome, ou talvez tivesse,  um nome que ela não gostava de lembrar.

Algo que ela não gostava de sentir.

Sua cabeça era uma bagunça, sua vida agora era uma bagunça. Não se arrependia das escolhas que havia feito, mas sabia que a falta que iria sentir a partir daquele dia seria pior e maior que qualquer dor, ou arrependimento.

Resolveu se deitar, caiu no sono.
Sonhou.
Sonhou que olhava para o futuro com um sorriso no rosto, e uma vontade de ganhar o mundo. Mas sonhou que ainda tinha medo, e esse medo atava suas mãos e seus pés, em meio a multidão. Em meio de faces familiares, no meio de pessoas que ela amava. Ela não tinha certeza do que àquilo significava, mas sabia que iria descobrir isso em breve.

Acordou.
E ainda possuía os mesmo olhos. Havia se perdido, e aquilo já não era mais como um sonho ruim.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

o mês era outubro, e o dia foi do masp.

Talvez não faça parte do meu repertório cantar algo que não seja saudade, ou garotas, e até mesmo alguns medos idiotas. mas o corpo se faz mais cansado que a mente, e a alma, provavelmente mais exausta que os dois juntos essa noite. As responsabilidades se cansaram de mim, e sem duvidas eu me cansei delas. quase como um relacionamento problemático, estou esperando-as dizer que tem algum tipo de câncer maligno para saírem logo da minha vida. nada pessoal, é só que.. talvez elas não sejam pra mim.
O café esfriou e não possui mais o mesmo efeito, as noites não começam a ser noites tão cedo, e a lua.. eu mal consigo vê-la. o lilás na parede me enjoa, e a cada dia que passa, eu me perco mais dentro desse quarto; e me parece que ele se comprime mais a cada dia que passa. Tá tudo errado. Hoje, por ironia, me lembrei de alguém que já foi assim, e que já esteve perdida exatamente como eu estou hoje. Alguém que tentava carregar o mundo nas costas, e o peso de um nome, ou legado, também... ah se hoje eu tivesse metade da inocência que essa garotinha teve quando resolveu assumir tantas coisas, acho que estaria encarando cada parede desse quarto com um sorriso no rosto. Talvez porque ela ainda possuísse peças importantes daquele quebra cabeças que ficaria pior com o passar dos anos. Ou talvez porque as guardasse como se fossem as coisas mais raras do mundo, e não as deixasse se desfazer como areia ao vento. Talvez ela não estivesse tentando agarrar fumaça com as mãos, e sim, inspirando-a o mais fundo que pudesse, para sentir cada parte.. para se sentir inteira. A garotinha vestiu uma capa, e decidiu ser seu próprio herói. Ela tinha coragem. O nome era Laura, a cor dos olhos era verde. os cabelos ainda eram louros, e cacheados. Ela não sabia o que era, nem onde estava, mas sabia que queria salvar alguém.

O nome é Laura, a cor dos olhos ainda é verde, os cabelos ficaram negros, mas por ironia do tempo estão voltando a ser o que eram antes. Essa, não sabe nem quem é. Nem o que quer fazer ou ser daqui para frente, mas ela ainda sabe quem gostaria de salvar.


I've gotta tell you what a state I'm in... I've gotta tell you in my loudest tones,
that I started looking for a warning sign.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

update, 03:57

Olá.
Já faz algum tempo desde a última vez que me peguei escrevendo algo, algo que não tivesse a ver com trabalhos escolares, ou coisas do tipo. É outubro. O tempo passou tão rápido, e eu mal pude perceber.
Também já faz algum tempo que não visito a "Terra dos Corações Partidos" como diria um bom amigo.. as coisas por lá eu já nem sei mais como são.. Os cenários, os heróis de guerra, a cidade em tons de cinza sem vida são lembranças.. se não até menos que isso, são flash's quase que irrelevantes. Como pude esquecer um lugar que me abrigou por tanto tempo, irônico, e até arrogante demais não é!? é, eu sei... é que, sabe, acho que eu tenho uma boa explicação pra isso.
- Uma garota.
E o que mais poderia ser, não é?
- Na verdade, é 'A garota.'
Acho que a Terra dos Corações Partidos não precisa mais de mim, talvez ela ainda esteja aqui em algum lugar... Até porque, a felicidade se torna banal com a ausência da tristeza. Não me lembrar mais de como é esse lugar tem me feito muito bem, e agradeço com cada parte do meu coração à pequena, por ter conseguido me tirar de lá...
Quem sabe eu volte a visitar esse lugar, mas apenas de passagem. Não tenho a intenção de fazê-lo moradia outra vez. Reencontrar os heróis, ouvir suas histórias e finalmente entendê-las. Ver os novatos, e ver como estão se saindo por lá... É, seria algo interessante para se fazer. -  Mas é melhor não pensar nisso agora, não é, pequena?

O bom filho à casa torna, mas dessa vez, sem hora e dia para voltar.


"I'm coming out of my cage,
and I've been doing just fine."